O risco geralmente aumenta com a idade, mas outros fatores podem afetar essa progressão em pessoas mais jovens. Alterações cardíacas descobertas em estudos de grandes populações de atletas afetam 2% dos indivíduos.
Quem tem arritmia e problemas cardíacos corre risco ao se exercitar? Existe uma escala de risco cardíaco por idade? Qual o risco de doenças coronárias fatais em jovens? A morte do jogador uruguaio Juan Manuel Izquierdo, de 27 anos, que passou mal durante uma partida da Copa Libertadores na quinta-feira (22) levantou estas questões. Izquierdo havia detectado uma arritmia no coração em 2014, quando tinha 17 anos.
O secretário nacional de Esporte do Uruguai, Sebastián Bauzá, afirmou nesta segunda-feira (22), durante o programa esportivo uruguaio “Minuto 1”, da rádio Carve Deportiva, que há 10 anos, foram feitos exames com o elenco do Cerro, onde jogava o Juan Izquierdo naquele momento.
“Ele passou por um eletrocardiograma. Juan tinha 17 anos, tinha uma pequena arritmia e foi informado. Ter detectada uma arritmia não significa que a pessoa não possa jogar futebol. Há que se controlar, e estamos seguros de que os médicos dos diferentes clubes por onde ele passou controlaram isso”, declarou Bauzá.
O g1 ouviu especialistas sobre o risco de se exercitar para quem tem arritmia e os cuidados que pessoas com problemas cardíacos devem ter.
Risco na juventude
O risco de doenças cardíacas fatais geralmente aumenta com a idade, mas existem fatores que podem afetar essa progressão em pessoas mais jovens.
A adoção de um estilo de vida saudável desde cedo é crucial para prevenir problemas futuros. Especialistas destacam que a atividade física costuma ter benefício muito maior que o risco e, quando se fala em risco, ele está mais associado a esportes de alto rendimento.
Jovens com histórico familiar de infarto e doenças cardíacas podem ter um risco maior de desenvolver problemas cardíacos. Mas algumas condições podem colaborar para isso, como: a insuficiência cardíaca, que pode ocorrer em jovens devido a hábitos de vida pouco saudáveis; a arteriosclerose precoce, que pode ser um fator de risco importante para doenças cardíacas fatais e a hipertensão não tratada, que pode levar a complicações cardiovasculares sérias.
Além disso, o aumento do estresse e a má alimentação têm contribuído para casos de infarto do miocárdio em pessoas mais jovens, destaca o Dr. Flávio Cure, cardiologista clínico e especialista em cardio-oncologia do hospital CopaStar. A prevenção de doenças cardiovasculares em jovens é crucial para a saúde a longo prazo, segundo o médico.
- Em jovens adultos (de 18 a 35 anos), o risco de doença cardíaca fatal é relativamente baixo, mas pode ser influenciado por fatores como genética, obesidade, tabagismo, sedentarismo e hipertensão. Nesta faixa etária, as causas mais relacionadas a eventos cardiológicos são problemas do músculo cardíaco, muitas vezes geneticamente determinados (como a cardiomiopatia hipertrofica – uma forma de aumento da massa muscular do coração que pode ter relação com arritmias), ou alterações na “parte elétrica” do coração. Algumas delas são tratáveis e o atleta pode voltar normalmente ao esporte.
- Em adultos de meia idade (de 36 a 55 anos), o risco começa a aumentar, especialmente em pessoas com fatores de risco como diabetes, colesterol alto, estresse crônico e hábitos alimentares inadequados. A prevalência de doenças como hipertensão também se torna uma preocupação. A causa mais comum de problemas cardíacos nesta faixa é a doença das artérias coronárias que pode levar a infarto.
- Em idosos (56 anos ou mais), o risco se torna significativamente maior devido ao acúmulo de fatores de risco ao longo da vida. A degeneração natural do sistema cardiovascular, junto com condições crônicas como diabetes e colesterol elevado, contribui para um aumento exponencial do risco de doenças cardíacas fatais.
“É sempre uma boa ideia realizar exames regulares e manter um acompanhamento médico para monitorar a saúde cardiovascular”, afirma o Dr. Flávio Cure.
Para atletas profissionais e para aqueles esportistas que vão competir, principalmente em maior intensidade, uma avaliação cardiológica composta inicialmente por consulta, exame físico e eletrocardiograma pode diagnosticar a maior parte de alterações cardíacas e evitar que um atleta com uma patologia se exponha a um risco maior, acrescenta o Dr. Luiz Eduardo Ritt, presidente do Departamento de cardiologia do Exercício da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
“Em estudos de grandes populações de atletas a taxa de achados nesses exames é em torno de 2%”, afirma o Dr Luiz.
A morte súbita tem muitas causas e a mais comum é o infarto, quando a artéria fecha, falta sangue para o coração – que é uma bomba de músculo que bombeia sangue para o corpo inteiro e é sincronizado por um sistema elétrico – e existe um “curto-circuito” no sistema elétrico, levando a arritmias malignas e leva a parada cardíaca, explica o Dr. Roberto Kalil Filho, Presidente do Conselho Diretor do Instituto do Coração (InCor) e Diretor Geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês.
Para se ter um infarto, há fatores de risco, como diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto, tabagismo e sedentarismo. Pessoas jovens que tenham algum ou alguns desses fatores de risco podem infartar, mas o risco é muito menor do que em pessoas com mais de 50 anos.
Pessoas com qualquer tipo de problema cardíaco, como arritmia, obstrução nas artérias do coração, alterações estruturais das válvulas ou do músculo do coração precisam ter orientação médica para praticar exercícios.
As arritmias podem ser benignas, que não representam tem risco de morte e as malignas que leva a risco de morte, segundo o Dr. Kalil. Elas são tratadas com medicação ou com procedimentos mais invasivos, como o cateterismo, que vê as artérias do coração e com o exame eletrofisiológico, que avalia o sistema elétrico do coração e pode levar a uma cauterização chamada de ablação, onde ocorre uma correção da instabilidade elétrica.
Há casos de jogadores de futebol na Europa com arritmias malignas que implantam desfibriladores para jogar. “Mas uma pessoa com problema cardíaco mais sério não pode fazer esforço extenuante”, afirma Dr. Kalil.
O médico destaca que – para haver um evento cardíaco fatal em jovens – é muito mais provável a chance de doença genética do coração de atleta, uma predisposição. Exames genéticos não fazem parte da rotina e o que se vê muitas vezes é uma consulta ao histórico familiar.
“Muitas vezes, um atleta com bom condicionamento físico não tem alteração estrutural no meu coração – nem na válvula, nem no músculo, nem nas coronárias – mas tem uma tendência genética a ter uma arritmia mais grave”, diz o Dr. Kallil.
O médico diz que a chance de um atleta na faixa dos 20 anos ter um problema cardíaco fatal é muito rara, mas ele chama a atenção para o chamado atleta de fim de semana – aquela pessoa sem condicionamento físico nenhum, que já tem problema cardíaco e vai correr num sábado no sol, desidratando, ao meio-dia. A chance de essa pessoa ter um problema é muito maior.
A incidência de obstrução em artéria do coração – chamada doença coronária – aumenta acima dos 50 anos, tanto no homem como na mulher.
Para quem tem um histórico familiar, os exames básicos de monitoramento são: teste de esforço, ergométrico, ecocardiograma, eletrocardiograma e avaliações em exame de sangue, como com colesterol, glicemia, o triglicérides – que são os gorduras do sangue.
Fonte: G1–
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